domingo, setembro 02, 2007


Varanda...

Era apenas no segundo andar, onde era apenas a noite que me aquecia, e dentro dessa noite sonhava, apenas com o luar a bater sobre o meu corpo. Havia também um poste de iluminação, que ficava exactamente á medida da varanda, sempre adorei o poste, era teimoso, de 5 em 5 minutos apagava, e assim vivia de noite, com um leve sono de 2 minutos entre um espaço de 5 minutos. Nunca me perguntei porquê que o adorava, sempre que queria dormir ele não me deixava, havia sempre uma frincha por entre a preciana onde a luz se descaía e iluminava o meu quarto, ainda assim adorava-o, a sua teimosia, nele via um coração, um amor perdido, que batia de 5 em 5 minutos, ao ritmo da lua... Pobre coitado, vítima de um abandono desonesto que o deixou perdido na minha rua, contudo, o sacana vívia, e chateava-me, provavelmente da mesma maneira como chateava os outros vizinhos, a menos que eles fossem fracos de espirito e tapassem as frinchas e os recantos todos da perciana... Enfim... Era assim que eu na varanda, no segundo andar, apenas com o calor da noite e a suave lúz da lua (durante 2 minutos no espaço de 5 em 5 minutos) sonhava, sonhava com corações que batiam, uns de 5 em 5 minutos, outros de 2 em 2 segundos, não me importava muito, apenas sonhava com eles. Sonhava em como era bom sentir o sangue a flúir pelas veias, sonhava como era bom o gosto da tentação de um bombardeiro de glóbos vermelhos...E assim lá ficava na varanda, acompanhado com ele, com o individuo que vive no meu peito, a observar a história do poste de iluminação, a ouvir as conversas perdidas dos morcegos e mochos que pairavam no ar, e sonhava, sonhava com a história do poste, sonhava em 1001 maneiras de poder altera-la, as vezes pensava que nesse espaço de 5 minutos, nesse espaço de lúz ele estaria bem longe, a pairar no ar com os morcegos e os môchos, para bem longe, ou a procura da sua rua, a rua onde ele não precisasse de 5 minutos, a rua onde o dia era noite e a noite era mais iluminada que o dia, sonhos fantásticos, perdidos e soltos numa imaginação que nem eu consigo explicar ou definir... Uma imaginação...
Um dia, uma estranha sensação instalou-se naquele lugar, uma tentação que não estava a conseguir entender. Vigiei a varanda durante minutos e não encontrava o que me estava a por tolo, até que, reparei numa coisa, o poste, olhei para ele, passaram-se 2 minutos, eu continuei a olhar para ele, ao 3º minuto os meus olhos mal suportavam a sua lúz, ainda assim fui teimoso, e aguentei-me até ao 4º minuto, infelizmente o sacana ganhou-me em teimosia, mais uma vez, então eu desviei o olhar para o relogio onde contava os minutos. Chegou então o quinto minuto, e eu fixei o olhar nele como se ele fosse um alvo e eu um missil, o minuto estava a acabar e eu sempre fixado na sua lúz, notei que os morcegos nao chiavam da mesma maneira, eu ja estava a acreditar que milagres poderiam acontecer. E assim foi, uma noite mágica, uma noite
inesquecivel, chegou entao o 6º minuto, e a lúz queimava como uma estrela no céu, sempre viva e cheia de força, o poste não se apagara daquela vez...e assim passei a noite toda, a sonhar com o que poderia tar a acontecer naquela noite. Levei 2 dias a perceber o que se tinha passado. Na noite a seguir, o poste tinha voltado a sua rotina normal, a varanda tinha perdido aquele encanto mágico que surgiu nas noites anteriores, mas o sonho tava la, o poste ausentou-se num voo rasante por entre as ruas, e encontrou a minha rua como a sua vida, dando-lhe então os seus batimentos, 12 horas seguidas, sem pausas de 5 em 5 minutos. Se eu soubesse a sua lingua era capas de lhe pedir para me explicar o que tinha sucedido naquela noite, mas ainda bem que não falo a sua lingua, porque agora, posso sentar-me na varanda, mas, não só com 1 sonho, mas sim com 2 sonhos, o que se passou naquela noite ?
Com ele aprendi uma coisa, não muito útil às pessoas, mas para mim sim, alias, das melhores lições que já tive, aprendi que nós somos mestres das pausas e dos espaços de tempo dos batimentos do nosso coração, ele bate e vive sempre que eu queira, e viverá, enquanto eu lhe der ouvidos, porque ele é o individuo mais importante que eu conheço...